O que a corrida de rua me ensinou sobre UX

O que a corrida de rua me ensinou sobre UX



Author Eduardo Rubinato


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Correr é algo muito pessoal, mas me ensina muito sobre design e sobre a solução de problemas para os outros. Afinal, como qualquer atividade física, a corrida tem seus desafios e nuances que inspiram constantemente meu trabalho como designer.

Tenho para mim que quando corro aprendo muito mais sobre a vida, relações e experiências do que propriamente sobre corrida, e estes preciosos ensinamentos me ajudam e me tornam UX Designer melhor.

Por isso, gostaria de falar sobre algumas das lições que aprendi nestes dois anos correndo em ruas, parques e provas e como estes aprendizados 'que aparentemente' são tão distintos estão intrinsecamente relacionados.

Mas antes de qualquer coisa, preciso te contextualizar o porquê comecei a correr, neste sentido a corrida entrou na minha vida, primeiro por questões de saúde, já que como muitos era um sedentário convicto e com o avançar da idade (na época 43 anos) já começava a sentir o preço deste estilo de vida, coisas como: apneia, refluxo, gastrite e dores horríveis no joelho por sobrepeso eram algumas destas coisas, além disso, como muitos, o isolamento por conta da pandemia acabou por me trazer um quadro bem grave de depressão.

Bem, já devidamente contextualizados, vou compartilhar alguns destas preciosas lições que dois anos de corrida estão me proporcionando, são elas:

1. A origem do problema 'geralmente' não é onde a dor está

Muitas vezes, na corrida, a raiz de uma lesão não é exatamente de onde vem a dor, aprendi com minha fisio que muitas vezes uma dor muscular pode se irradiar pelo corpo causando a sensação que aquela determinada parte é onde de fato está a dor. Da mesma forma, no design muitas vezes problemas aparentes, é que são perceptíveis muito rapidamente, podem apenas ser consequências e não as causas do verdadeiro problema.

Portanto, aprendi a adotar sempre uma abordagem holística para projetar experiências do usuário, contextualizando e pesquisando as complexidades dos problemas com os quais estou trabalhando. Afinal, compreender e validar o problema é essêncial parte o design!

2. Você não pode fazer tudo - foque em uma coisa de cada vez

Durante meu treinamento atual para a meia maratona (21 quilômetros), tentei estabelecer novos recordes pessoais, o famoso 'RP' para a distância dos 10k, prova que particularmente eu amo fazer, mas não consegui correr tão bem quanto esperava.

Em meus pensamentos achava que se estava treinando para uma meia maratona, também poderia me sair muito bem em distâncias mais curtas, mas estava complemente errado. Aprendi que distâncias diferentes, exigem treinamentos diferentes.

Da mesma maneira, ao trabalhar em projetos de design, apesar da tentação de querer fazer tudo só porque os insights apresentam muitas oportunidades, muitas vezes é mais eficaz focar em um problema de cada vez e resolvê-lo.

XX meia maratona de Santo André

3. Confie no processo, esforço nenhum é desperdício

Muitas vezes no processo de preparação para uma prova alvo alguns treinos parecem verdadeiros desperdícios.

Contudo, como tudo na vida é a repetição que nos propícia à excelência e as condições necessárias para o nosso desenvolvimento, aprendi assim que a rotina e a repetição não são lembrados na fase final de um projeto, contudo, são estes detalhes, estas repetições que tornam um projeto possível de ser feito.
Há um valor em cada passo dado para se atingir um determinado objetivo, mesmo que ele inicialmente cause dúvidas, e o resultado não seja imediatamente visível.

4. Correr devagar ajuda você a ir mais rápido

Muitas pessoas imaginam quando digo que corro que estou sempre correndo no meu limite cardiovascular, mas a verdade é que na maioria das vezes é exatamente o aposto, geralmente faço meus treinos em zona moderadas, por isso, é sempre uma grande surpresa quando as pessoas olham meus tempos nos treinos e os comparam com as provas.

Mas veja, não sou o único, por mais que isso pareça bem contra intuitivo grandes maratonistas da atualidade como, por exemplo, Eliud Kipchoge fazem a mesma coisa, oras, mas afinal como isso ajuda?

Ajuda, pois correr devagar me prepara para enfrentar grandes distâncias que talvez fossem impossíveis em um primeiro momento com uma velocidade maior, da mesma maneira é fácil se perder no ímpeto de querer produzir muitos produtos, ou entregar diversas features, mas é fundamental desacelerar.

Correr rápido o tempo todo te leva ao esgotamento e inevitavelmente a lesões, da mesma maneia o rápido desenvolvimento de um produto pode nos levar, a erros básicos em nossas imersões, ou à exclusão de grandes grupos de usuários por falta de tempo, é em muitos casos à criação de soluções “ruins” que não atendem as necessidades reais de nossos usuários.

Assim, redefinir, refletir e alinhar os problemas é absolutamente necessário em ambos os empreendimentos para fornecer os melhores resultados.

5. O progresso não é linear (respeite seu tempo)

A corrida assim como qualquer outro esporte que se pratique requer tempo e paciência, muitas vezes o progresso ou a melhora que esperamos não ocorrem na mesma velocidade que gostaríamos, mas nem por isso elas não estão acontecendo, ou dito em outras palavras, o progresso nem sempre é linear.

Durante meu progresso como designer houve muitas vezes em que precisei refazer algumas coisas, ou precisei reavaliar alguns dados porque não tinha insights e confiança suficientes para apoiar minhas decisões.

Neste sentido, a falha ou erro é uma parte inevitável do processo de crescimento, não há aprendizado sem tentativas, contudo, o lado positivo é que são estas falhas ou estes erros que nos dão a experiência e bagagem necessárias para assumir grandes projetos e colher resultados mais adiante.

Assim não se desespere em aprender tudo muito rápido, aprecie o seu processo de aprendizado, permita-se errar, e o mais importante, tenha a humildade de aprender com seus erros, porque são estes percalços e situações que vão lhe tornar um designer melhor.

6. Provas mesmo em distâncias iguais são diferentes

Quando comecei a correr acreditava que o que diferenciava uma prova da outra era a sua distância, ledo engano, provas de corrida mesmo com distâncias iguais podem nos apresentar cenários completamente diferentes.

Por exemplo, há uma diferença enorme entre correr um percurso plano ao invés de um percurso com muitas subidas, pois tendemos a cansar mais em subidas, outro fator é a temperatura, correr no inverno e totalmente diferente de correr no verão, em suma a distância até pode ser a mesma, mas nem todas as variáveis o são.

O mesmo acontece em projetos de design, muitas vezes somos levados a crer que determinado projeto é igual a outro que já trabalhamos, esquecendo que cada projeto em si carrega as suas próprias peculiaridades.

Por isso, evite encarar um projeto como algo igual a um feito anteriormente, explore as variáveis do projeto e suas diferenças, pois isto evita que erros que por ventura possam comprometer o projeto aconteçam.

Resumindo

Eu sempre acreditei que as lições que aprendo na corrida podem ser aplicadas diretamente aos desafios que enfrento como designer, até porque, no final das contas, nada no design é lá muito convencional.

Afinal as necessidades das pessoas estão sempre em constante mudança, e muitas vezes os resultados que realmente causam impactos positivos, exigem coragem, uma mudança sincera de mentalidade e disposição para se permitir pensar o novo.

E é exatamente este um dos maiores ensinamentos que aprendi correndo, isto é, o valor de se quebrar hábitos, de reavaliar situações, de se perdoar por erros passados, de aceitar novos desafios, e principalmente, de se ter fé durante momentos ruins, porque, no fundo, todas as situações das boas as ruins nos trazem grandes ensinamentos e nos preparam para avanços significativos.
whats