
Uma das frases mais ditas sobre design é que o bom design é invisível, existe até livros sobre como tornar um design invisível para quem o usa, alegando que uma boa interface (UI), é aquela onde o usuário não a percebe, isto é, ela parece integrada ao ambiente como algo natural.
Esta corrente de pensamento parece derivar do livro “Não me faça pensar” de Steve Krug, onde usabilidade e eficiência são os valores mais altos que podemos alcançar quando pensamos em design.
Embora esses valores sejam importantes, talvez seja necessário entender que qualquer produto deve ser tão visível quanto precisa ser neste sentindo existem milhares de exemplos de designs bonitos e visíveis.
Contudo, para entender mais a fundo precisamos estudar um pouco do conceito por de trás dessa linha de pensamento, assim quando os designers falam sobre invisibilidade, eles estão (às vezes inadvertidamente) se referindo à noção de Heidegger de "prontidão na mão" vs. "presença na mão".
Heidegger introduz uma distinção entre duas maneiras de abordar o mundo: o presente à mão e o pronto à mão. Assim o Presente à mão refere-se à nossa apreensão teórica de um mundo feito de objetos. É a concepção de mundo da qual começa a ciência. Já o pronto à mão descreve nossa relação prática com coisas que são úteis.
Como exemplo, podemos citar o ato de escrever com uma caneta, quando você está ciente da ferramenta como uma ferramenta, como um objeto em si, isso é presença imediata.
Ainda neste exemplo, podemos imaginar a caneta ficando sem tinta. Ao se aperceber deste fato, você se torna ciente dele como um objeto em sua mão, e assim passa a considerar sua forma, tamanho, cor e demais características, que estavam lá o tempo todo.
“Quando o produto é tão prazeroso de usar, ele torna a atividade mais prazerosa, podemos entender isso como um bom design.”
Agora quando pensamos no princípio geral do design de interação, um produto que está sempre pronto para ser usado pode ser considerado algo bom, mas aqui está o problema: com o tempo e com o seu uso repetido, até mesmo alguns dos piores designs já feitos podem ficar à mão.
Podemos citar como exemplo muitas aplicações antigas de cadastro com suas várias etapas de preenchimento e inúmeras guias, que tornam muito complicado o entendimento, e isso se torna um problema, pois o usuário pode acabar se “acostumando” com tal design, não vendo assim como melhorar o mesmo, isto é, a aplicação se tornou tão familiar, que é impossível para seus usuários pensar em algo melhor.
Desta maneira, podemos notar que a prontidão disponível não é necessariamente marca de um bom design. Afinal podemos nos adaptar a designs horríveis e hostis o tempo todo, muitas vezes sem se dar conta disso.
Assim fica a pergunta, qual é a marca do bom design?
Quando a presença de um produto à mão (sua forma e aparência) não interfere em sua prontidão, mas também melhora ou aprimora sua experiência podemos entender como um bom design.
Ou em outras palavras, quando o produto em si é tão agradável de usar que torna a atividade na qual você está fazendo mais prazerosa, isso é um bom design.
Um bom exemplo disso seriam os automóveis, basicamente todo o carro pode levá-lo de um lugar para outro, mas como você sabe uma Ferrari vai custar muito mais caro do que um Kia é porque isso ocorre, se ambos fazem a mesma coisa?
Além do seu design superior, a experiência de uso entre ambos jamais será igual, é essa combinação de prontidão na mão e presença na mão, será decididamente diferente.
Fica fácil perceber que um bom produto pode transformar para melhor a experiência para qual a tarefa está sendo feita, e neste sentindo, não é disso que se trata o design de experiência?
Assim designs visíveis não são apenas potencialmente mais valiosos, mas também pode ser potencialmente mais utilizável afinal o que podemos ver apreciar e valorizar, mesmo se não o estivermos usando.
Até porque se você não consegue descobrir como usar um determinado produto, sua invisibilidade é inútil. Tanto é assim que muitos produtos possuem adesivos para instruir como utiliza-lós.
Isso nos leva aos três grandes temas em design: tornar algo bonito, tornar algo mais fácil e tornar algo possível.
Os melhores designs realizam todos os três de uma vez, assim os melhores produtos são tão visíveis quanto necessários, para tornar o seu uso e atividade melhores.