A importância do Continuous Discovery

A importância do Continuous Discovery



Author Eduardo Rubinato


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O Continuous Discovery é um aspecto essencial quando se trata de soluções para design eficazes, pois sem ele e sem validação de suposições de design, pode se correr o risco de criar produtos que não atendam às necessidades e preferências dos usuários, levando à perda de grandes oportunidades. 

Projetar um produto que atenda às necessidades e preferências dos usuários é uma tarefa muito desafiadora, muitas vezes esta tarefa é acompanhada por riscos e incertezas devido ao comportamento e às preferências do usuário que estão em constante mudança. Desta maneira, percebe-se que para o aumento das chances de sucesso é necessário um entendimento profundo das necessidades, vontades, desejos do cliente, que só podem ser obtidos por meio de pesquisas contínuas de experiência do usuário (UX). 

Isto posto, temos que Continuous Discovery é essencial para um design eficaz, pois permite que os designers obtenham insights valiosos sobre o que impulsiona o comportamento e as preferências do cliente.

Risco de Mitigação

Deixar de realizar pesquisas contínuas pode resultar em vários riscos e incertezas críticas para o design do produto, como explica a pesquisadora de design Teresa Torres, "o maior risco é construir algo que ninguém quer ou que não funciona". 

De fato, ao construirmos algo que não atende as especificidades dos usuários ou não funciona, podemos incorrer em casos mais severos na perda de receita do produto.

Por exemplo, se uma empresa lança uma nova funcionalidade sem entender as necessidades e preferências do usuário ou como está se integrará na jornada que o usuário realiza para uma determinada tarefa, o produto pode não ganhar satisfazer os usuários, que conseqüentemente podem abandoná-lo. Contudo, podemos citar outros riscos que estão associados à falta de pesquisas continuas ao produto, tais como:

  • Ao não realizar pesquisas contínuas, perdemos oportunidades de melhoria do produto, afinal se não entendemos as dores, necessidades e preferências do usuário, podemos acabar ignorando recursos ou elementos de design que poderiam tornar o produto mais bem-sucedido. 

  • Outro risco é não validar as suposições do produto, pois sem validação, os designers podem ‘achar’ que suas decisões funcionarão bem para os usuários, mas ‘contudo’ estas podem não se traduzir em resultados positivos em uma base de usuários maior. Isso pode levar a problemas de escalabilidade, problemas de desempenho e, por fim, perda de receita. 

  • Por fim, sem pesquisa e validação contínua, designers correm o risco de priorizar experiências e funcionalidades que não atendem as reais necessidades e preferências dos usuários, resultando em feedback negativo. 

Gerenciando a Incerteza

Como podemos perceber o risco de não aplicarmos o Continuous Discovery no dia a dia, se traduz em produtos que não atendem ou atendem parcialmente as necessidades dos usuários. Desta maneira, ao realizar pesquisas continuas tendemos a diminuir as incertezas, pois sem pesquisa e validação contínuas, designers podem fazer suposições sobre as necessidades e preferências do usuário que não estão alinhadas com a realidade. 

Pensando nisso, o Continuous Discovery reduz sistematicamente a incerteza quando conduzimos experimentos, coletamos dados e os comparamos com nossas suposições.Afinal sem validação, designers podem supor que suas decisões se alinham com os modelos mentais do cliente sobre como as coisas funcionam quando, na verdade, não estão esta falsa percepção pode levar a um produto difícil de usar.

Ao utilizarmos o Continuous Discovery reduzimos a incerteza, pois reunimos percepções validadas do cliente, testamos suposições e validamos soluções, conseqüentemente isso resulta em uma melhor compreensão das necessidades e preferências do usuário, o que pode levar a soluções de design mais bem-sucedidas.

Insights do cliente 

Outro ponto importante do Continuous Discovery são os insights valiosos que podemos obter isto, pois a pesquisa normalmente usa uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. 

Pois os Métodos Qualitativos, como inquérito contextual, pesquisas e testes de usabilidade, permitem que os pesquisadores obtenham uma compreensão aprofundada do comportamento e das preferências do usuário. 

Já os Métodos Quantitativos, como pesquisas e testes A/B, permitem que os pesquisadores coletem dados sobre o comportamento do usuário em uma escala maior e validem as decisões de design geralmente apontadas nas pesquisas qualitativas. Desta maneira, quando reunimos percepções dos clientes podemos criar produtos que atendam melhor às necessidades e preferências de seus usuários.Uma abordagem para identificar percepções valiosas é focar nas "tarefas a serem realizadas" do cliente ou o famoso “Jobs to be done”. 

Esse método, popularizado pelo professor de Harvard Clayton Christensen, sugere que os usuários "contratam" produtos para fazer um trabalho específico e, ao entender esses trabalhos, as equipes de produto podem criar produtos que atendam melhor às necessidades do cliente. 

Podemos aqui citar o exemplo clássico de uma furadeira, o usuário que compra este produto dificilmente o comprará pela estética ou potencia, na maioria dos casos a aquisição de determinado produto visa melhorar a estética de um determinado lugar, através de quadros, prateleiras etc..

Aqui vale uma observação interessante, muitos designer partem do pressuposto investigativo por produtos similares, sem de fato se embasarem na real necessidade do cliente, com isto estreitam sua visão não percebendo que concorrentes aparentemente diferentes, como por exemplo, uma fita 3M, possa ser utilizada para substituir uma furadeira, este erro ocorre em justa medida, pois o ponto de observação neste caso está focado na funcionalidade que se quer entregar e não na necessidade do usuário

Assim temos que as pesquisas continuas ajudam a identificar os trabalhos funcionais que os usuários estão tentando realizar e os pontos problemáticos que experimentam ao tentar concluir esses trabalhos. Ao utilizamos o Continuous Discovery equipes de produto podem criar produtos que satisfaçam melhor as necessidades e levem a uma maior adoção, satisfação e fidelidade.

A importância da Validação

A validação é uma parte essencial da Continuous Discovery isto porque permite que os designers garantam que suas decisões sejam baseadas em dados e evidências. 

Segundo Teresa Torres, "a validação consiste em testar nossas suposições". 

Desta maneira, a validação de suposições pode ajudar equipes de produto a evitar erros dispendiosos e a criar produtos que atendam melhor às necessidades dos clientes.

Neste sentindo há uma variedade de métodos de pesquisa que podem ser usados para validar suposições de design, contudo, vale ressaltar que não existe uma receita de bolo, os métodos escolhidos dependerão das suposições específicas que estão sendo testadas. É importante identificar as suposições que precisam ser validadas, isso pode envolver a revisão de pesquisas de produtos existentes ou a realização de pesquisas preliminares para identificar áreas de alta incerteza.

Escolha métodos de pesquisa mais alinhados com aquilo que se quer descobrir, lembre-se que diferentes métodos de pesquisa fornecem diferentes tipos de dados, e os métodos escolhidos dependerão das suposições específicas que estão sendo testadas.

Experiência versus suposições 

Além dos métodos a serem escolhidos, outro grande desafio é que, à medida que desenvolvemos maior expertise em resolver problemas e projetar soluções, torna-se cada vez mais desafiador refutar nossas suposições baseadas em anos de experiência, razão pela qual Karl Popper argumenta que: 

"Sempre que propomos uma solução para um determinado problema, devemos tentar ao máximo invalidar esta solução, ao invés de defendê-la, ou dito de outo modo, devemos exercer o pensamento crítico e procurar evitar o viés de confirmação na solução de problemas."

Ao invés disso, equipes de design devem buscar ativamente evidências e argumentos que possam refutar a solução proposta. Ao fazer isso, podemos entender melhor os pontos fortes e fracos de nossa solução e ter mais confiança em nossa decisão final, pois ao considerarmos soluções e perspectivas alternativas, podemos até descobrir novas e melhores formas de se resolver o problema.

Por fim, a validação é de suma importância, pois sem ela designers podem presumir que suas decisões de design se alinham com as necessidades e preferências do usuário quando, na verdade, não estão.

Como começar 

Para que possamos começar a utilizar o Continuous Discovery dentro de uma equipe de design de produto, é preciso entender as etapas pragmáticas que podem ajudar a tornar o processo mais suave e eficaz. Aqui estão algumas etapas a serem consideradas:

Metas e objetivos

O primeiro passo é definir claramente as metas e objetivos de seu de Continuous Discovery isso inclui entender o que você deseja aprender sobre seu mercado, clientes, usuários, quais incertezas você tem, quais perguntas precisa responder e que tipo de dados precisa coletar para obter os insights certos.

Adesão executiva 

Para que seu Continuous Discovery seja bem-sucedido, é importante garantir a adesão e o suporte executivos. Isso pode ajudá-lo a garantir os recursos e o financiamento necessários para realizar seu programa de pesquisa com eficiência.

A maneira mais eficaz de obter adesão executiva é mostrar valor "pequeno", realizando um experimento de pesquisa para um projeto de alto nível, reunindo e socializando os insights para provar o valor da pesquisa (reduzindo o risco de construir a coisa errada).

Processos e fluxos de trabalho 

O desenvolvimento de processos e fluxos de trabalho claros para o seu programa de pesquisa é fundamental para garantir que ele seja eficiente e eficaz. 

Repositório de pesquisa

Construir um repositório de pesquisa (de orientação, instruções, métodos, modelos e dados experimentais) pode ajudar a garantir que os insights de pesquisa sejam facilmente acessíveis a outras equipes dentro de sua organização.

Isso pode incluir a criação de um banco de dados central para os resultados da pesquisa, bem como o desenvolvimento de relatórios e outros materiais que resumem os principais insights. Comercializar os insights obtidos da pesquisa (e as oportunidades identificadas a partir dela) pode percorrer um longo caminho para estabelecer a adesão organizacional e executiva.

Iterar continuamente 

Finalmente, é importante iterar continuamente e melhorar sua capacidade de Continuous Discovery ao longo do tempo. Isso inclui coletar feedback de sua equipe de pesquisa e outras partes interessadas executivas, bem como revisar e refinar regularmente suas atividades e métodos de pesquisa para garantir que esteja atingindo suas metas e objetivos.

Ao seguir essas etapas, você pode estabelecer uma capacidade de pesquisa robusta e eficaz que pode ajudá-lo a melhorar continuamente o design de seu produto e entender melhor as necessidades e os comportamentos de seus usuários.

Conclusão

Como vimos, o Continuous Discovery é essencial para soluções de design eficazes e com boas chances de sucesso no mercado, pois ao mitigar riscos, reduzir incertezas, reunir insights de clientes e validar soluções, designers podem criar produtos que atendam às necessidades e preferências de seus clientes e satisfaçam suas tarefas.

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